36 neutras obtiveram permissão oficial de comércio em Buenos Aires e Montevidéu, favorecendo sobremaneira os mercadores portugueses, principalmente aqueles do Rio de Janeiro envolvidos no tráfico de escravos. Embora toda essa atividade tenha conhecido contração após 1783, no início da década seguinte ela voltou a crescer, com a Coroa espanhola regulamentando o comércio negreiro no Prata em 1791, e abrindo de vez o comércio entre seus portos e os do Brasil em 17951. O acirramento dos conflitos europeus em torno da França revolucionária, a partir de 1797, estimulou a Espanha a aprofundar a abertura de seus mercados coloniais às potências neutrais. Nesse contexto, novamente despontaram as atividades de comerciantes portugueses radicados no Brasil. Alguns números fornecidos por uma especialista no tema são exemplares e eloqüentes: em 1799, das 30 embarcações negreiras chegadas ao Rio da Prata, 19 procediam do Brasil; em 1804, dentre o total de 482 estrangeiros residentes em Buenos Aires, 54% eram portugueses–a grande maioria negociantes que mantinham agentes nos portos luso-americanos–, cifra que atingiria 63% em 18072. A despeito de alguns recuos–como durante a chamada “Guerra das Laranjas”, entre Portugal e Espanha em 1801, ou as invasões britânicas a Montevidéu e Buenos Aires, de onde foram expulsos por milicianos locais em 1806 e 1807–, as ligações entre o Brasil e o Rio da Prata jamais cessaram, chegando inclusive a crescer daí em diante. Em 1808, a corte portuguesa no Brasil decretou a abertura de seus portos, em 28 de janeiro, enquanto a Espanha reduziu as tarifas alfandegárias de Buenos Aires para mercadorias procedentes do Brasil, em 13 de julho de 18083. O negociante inglês John Luccock escreveria, pouco depois, que “houve, é verdade, uma época em que [...] até os gêneros que passavam de um para outro porto do próprio rio, Buenos Aires e Montevidéu, eram transportados via Rio de Janeiro” 4.