[PDF][PDF] As pestes na história: contágio desigual entre classes, sofrimento, balas de prata e messias

R Mantovani, S Caponi - Dilemas, 2020 - academia.edu
Dilemas, 2020academia.edu
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil lhados a partir das lentes
atuais, os métodos de cura do passado eram estranhos. E nos parecem estranhos porque
eles mudaram substancialmente. Em cada período histórico, as explicações científicas
estavam de acordo com o raciocínio lógico daquele momento. E pensar a história da
medicina e da saúde pública de dois séculos atrás, por exemplo, é desafiador devido à
quebra paradigmática que houve em fins do século XIX. Com o início da era bacteriológica …
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil lhados a partir das lentes atuais, os métodos de cura do passado eram estranhos. E nos parecem estranhos porque eles mudaram substancialmente. Em cada período histórico, as explicações científicas estavam de acordo com o raciocínio lógico daquele momento. E pensar a história da medicina e da saúde pública de dois séculos atrás, por exemplo, é desafiador devido à quebra paradigmática que houve em fins do século XIX. Com o início da era bacteriológica, que alguns dizem ter revolucionado o conhecimento médico (PORTER, 1997; ROSENBERG, 1987) e outros afirmam que as continuidades foram maiores do que supomos em alguns locais (WORBOYS, 2007), alguns princípios de mais ou menos dois mil anos passaram a ser questionados e começaram a surgir novas maneiras de entender a vida e a forma que se adoece.
Antes, os maiores responsáveis pelo adoecimento seriam os miasmas, pequenas partículas sem vida e pútridas que emergiam de pântanos, corpos em decomposição, casas de curtume, açougues, lugares úmidos em geral, que tomariam o ambiente e seriam responsáveis por infecções. Entendia-se que a causa de boa parte das doenças era multifatorial, entretanto, dava-se grande importância para o ambiente. Poucas eram as doenças para as quais se aceitava a explicação de contágio de pessoa para pessoa. Varíola, lepra, sífilis eram algumas delas. E aqueles que explicavam o adoecimento das outras enfermidades pelo raciocínio contagionista eram motivo de chacota até pouco depois de meados do século XIX. Até que o paradigma bacteriológico se tornasse dominante e os anticontagionistas, que haviam dominado o debate científico até então, se tornassem cada vez mais cientistas do passado1 (ACKERKNECHT, 1948). Desta maneira, não seriam mais as partículas putrefeitas que atacariam a vida, seriam microrganismos vivos que poderiam prejudicá-la. Junto com essa mudança de perspectiva, advêm duas outras mudanças para o campo da medicina e da saúde pública que são extremamente importantes: o primeiro deles é uma maior eficácia dos tratamentos médicos. É verdade que a ideia de que a assepsia preveniria doenças ganhou força com Florence Nightingale (1820–1910), entretanto, de acordo com o seu raciocínio, a higienização provinha da necessidade de manter o ambiente livre das reações fisiológicas de um corpo em desequilíbrio e não de um agente que causaria uma doença específica (ROSENBERG, 1979, pp. 118-119). Essa prática ganhou outro respaldo teórico-científico com o progressivo
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