Introdução
A eficácia da colonoscopia depende de uma visualização adequada e cuidadosa de toda a mucosa cólica. A má qualidade da preparação intestinal é um problema comum na nossa prática clínica, estimando-se que afete cerca de 20% dos exames.
Objetivo
Avaliar o impacto que o ensino personalizado ao doente pode ter na qualidade da preparação intestinal para a colonoscopia.
Métodos
Durante 24 meses foi efetuado um estudo prospetivo, randomizado e cego para os investigadores. A randomização foi efetuada por tabela computorizada e os doentes foram alocados em 2 grupos (grupo «controlo» e grupo «intervenção»). A todos os doentes foi dada informação verbal pelo gastrenterologista assistente, e nos doentes do grupo «intervenção» foi adicionalmente efetuado ensino personalizado pela equipa de enfermagem. Foram incluídos doentes referenciados para realização de colonoscopia total, com exceção dos que apresentavam cirurgia prévia do cólon ou diagnóstico de neoplasia colorretal. A preparação intestinal foi efetuada com 4 litros de solução de polietilenoglicol e todos os exames foram realizados sem sedação anestésica, por 2 gastrenterologistas. Foram apuradas as características dos doentes e aplicado um questionário no final do exame. A classificação da limpeza intestinal foi aferida usando a escala de Aronchick. A correlação entre os 2 investigadores foi avaliada pelo método de Kappa e a análise estatística entre os grupos pelos testes t-Student e Qui-quadrado.
Resultados
Foram randomizados 125 doentes, 67 para o grupo «controlo» e 58 para o grupo «intervenção». Os grupos eram homogéneos para a maioria das características estudadas exceto para os antecedentes de cirurgia abdominal e de colonoscopia prévia. Foi conseguida uma limpeza intestinal excelente ou boa em 38,8% dos exames no grupo «controlo» e em 58,6% dos exames no grupo «intervenção», sendo esta diferença estatisticamente significativa (p = 0,03). Em análise de subgrupos verificou-se uma melhoria da qualidade da preparação nos doentes com obstipação crónica (preparação intestinal excelente ou boa: 21,4% no grupo «controlo» vs. 57,1% no grupo «intervenção», p = 0,04).
Conclusões
Os resultados, embora preliminares, sugerem que o ensino personalizado poderá ter um impacto positivo na melhoria da qualidade da preparação intestinal, sobretudo em alguns grupos de doentes como aqueles com obstipação crónica.