O entendimento da relação entre envelhecimento e gravidade da COVID-19 é fundamental sob diversos aspectos: para o manejo clínico de pacientes com infecção pelo SARS-CoV-2, formação de políticas em saúde e para o reposicionamento de fármacos e/ou desenvolvimento de possíveis alvos terapêuticos destinados a esta população. Com ênfase nos mecanismos moleculares e fisiopatológicos subjacentes, discorreremos sobre os potenciais fatores de risco que podem contribuir para a gravidade da COVID-19 em pacientes com idade avançada: alterações da ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2), imunossenescência e inflammaging, e presença de multimorbidade e fragilidade.
ECA2, Infecção por SARS-CoV-2 e Envelhecimento Alterações induzidas pelo envelhecimento em vias metabólicas podem, em parte, explicar a maior taxa de morbimortalidade por COVID-19 em pacientes idosos. Dentre estas, destacam-se aquelas pertencentes ao sistema renina-angiotensina (SRA), haja vista o papel crucial que esse sistema desempenha tanto na transmissibilidade viral1 como na patogenia da lesão pulmonar aguda e de sua forma mais grave, a síndrome da angústia respiratória aguda (SARA). 2 Sabe-se que a ECA2 age como um receptor para a proteína estrutural S (espícula) do SARS-CoV-2, 1 através da qual o vírus ganha acesso à célula hospedeira. Esse mecanismo envolve a interação da proteína S viral com o domínio extracelular da ECA2, desencadeando mudanças conformacionais que desestabilizam a membrana celular, propiciando a internalização do SARS-CoV-2 e da ECA2, a replicação viral, e a transmissão célula a célula. 1, 3