O avanço tecnológico, em vez de libertar as pessoas das longas e repetitivas jornadas de trabalho, fez com que elas trabalhassem mais e em coisas que não querem ou não gostam. Bullshit jobs, livro do antropólogo norte-americano David Graeber, trata do crescimento dos “empregos sem sentido” ou, mais especificamente, dos bullshit jobs, termo que não é necessariamente sinônimo de má remuneração ou de condições precárias de trabalho. São nomeadas assim as formas de emprego desnecessárias ou perniciosas, das quais nem mesmo o empregado consegue justificar a existência, ainda que, como parte das exigências empregatícias, se sinta obrigado a parecer que esse não é o caso. Parte do fenômeno também inclui os processos de “bullshitization”, isto é, de crescimento na quantidade de tarefas sem sentido nos empregos com reconhecido valor social.
Mas quem define o que é um emprego necessário? O autor deixa isso a cargo da interpretação dos próprios trabalhadores, afirmando que não há ninguém melhor do que eles para medir o valor social de seus empregos. Segundo essas prerrogativas, o estudo de Graeber se estruturou metodologicamente a partir das repercussões que seu primeiro ensaio sobre o assunto teve em jornais e blogs, desde sua publicação em 2013. Em um segundo momento, criou um e-mail para que pessoas que se consideravam em um bullshit job escrevessem contando sobre a experiência. A partir dos mais de 250 testemunhos que recebeu após ter divulgado a proposta em diversas redes sociais, buscou esmiuçar a categoria, criando tipologias que ajudaram a dar condição objetiva ao fenômeno.