O professor–seja em formação inicial ou continuada–está inevitavelmente imerso em uma cultura grafocêntrica. A escrita é, portanto, uma tecnologia central para o exercício dessa profissão. Entretanto, a escrita docente normalmente está circunscrita a uma prática regulada por uma institucionalização que a burocratiza (cadernos de chamada, livros de ocorrências disciplinares, atas de reuniões, bilhetes para os responsáveis pelos alunos avisando sobre atividades escolares, cópias ou resumos de materiais didáticos elaborados por outros, etc.). É possível afirmar que, nesse tipo de escrita, exista uma baixa demanda do sujeito a fazer in-serções de si por meio da palavra (cf. CORACINI, 2010).
Dito isso, percebemos que a escrita de um “diário de formação” se apresenta como um grande desafio para qualquer contexto de formação docente, pois se configura como um evento de letramento (BARTON; HAMILTON, 1998) capaz de trazer à tona elementos polêmicos do processo de ensino-aprendizagem a partir do cruzamento de posições a respeito do exercício da docência–normalmente situadas na cristalização de dicotomias tais como teoria versus prática, tradição versus inovação, questões pedagógicas versus orientadas ao objeto de ensino etc. Para este trabalho, situamos o “diário de formação” em um contexto complexo, em que a formação inicial e continuada se interpenetram de forma intensiva e longitudinal: o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), o qual passou a ser desenvolvido em universidades de todo o país a partir do ano de 2008 e especificamente no contexto investigado–a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)–desde abril do ano de 20101. Versaremos aqui a respeito dos diários produzidos no interior do subprojeto de Letras2 (doravante, sub-Letras), o qual é entendido, para fins desta investigação, como uma rede social (cf. BORTONIRICARDO, 2011) formada por treze membros (uma professora coordenadora-docente universitária; duas supervisoras-docentes da Educação Básica e dez estudantes do curso de Licenciatura em Letras).